Homilia para o 1.º Domingo da Quaresma - ANO B
Homilia para o 1.º Domingo da Quaresma - ANO B

 

1.ª leit. Gen 9,8-15;  Sl 24,4-9 ,  2.ª Leit. 1 Pd 3,18-22;   Evangelho Mc 1,12-15

É tempo de conversão

Nos primeiros séculos da Igreja muitos cristãos, para fugirem ao bulício do mundo e se poderem encontrar mais de perto com Deus, refugiavam-se no deserto e aí viviam sujeitos a duras provações como às duras intempéries ou ao calor do Verão. A alimentação deles também era muito pouca. Todo o tempo era pouco para se encontrarem com Deus e bem se poderia dizer que eles conseguiam sobreviver pela graça de Deus. Alguns viviam isolados e outros em comunidades no Egipto, na Síria, na Grécia e outros países da região. O único objectivo deles era encontrarem-se com Deus através do jejum, da oração e da esmola. E eram muitos os que seguiam este estilo de vida. Eram os eremitas e podemos dizer que eram centenas ou mesmo milhares de pessoas, os que trocavam o conforto da sua casa pelo deserto. Eram os chamados “padres do deserto”.

O deserto, para eles, era fascinante e, por isso, muitos abandonavam tudo para irem para o deserto.

Hoje somos nós convidados a entrar no “deserto” da Quaresma. Este tempo precioso que o Senhor nos oferece para estarmos com Ele e nos encontrarmos connosco próprios.

O deserto é lugar de jejum, oração e de esmola. Cada um de nós é convidado a viver estas três atitudes: Oração, Jejum e partilha. Também “ Jesus foi guiado pelo Espírito Santo para o deserto.Esteve ali quarenta dias entre animais selvagens, sendo tentado por Satanás. (Mc 1,12-13)

Que fez Jesus no deserto? Naturalmente aquilo que todos faziam: rezava e jejuava e preparava-se para fazer bem a todas as pessoas. Diz o Evangelho que Jesus foi tentado. Isso é o mais natural. O deserto não é só o lugar onde encontramos Deus. É também o lugar onde somos mais tentados. Por isso Jesus foi tentado. Quando alguém está a tentar aproximar-se de Deus, ou seja para rezar, para participar na eucaristia ou num retiro ou em outra coisa idêntica, logo o demónio vai tentar impedir essa pessoa de se encontrar com Deus. Há sempre alguma coisa que nos distrai, que nos desvia e, se não tivermos cuidado, acabamos por não rezar e é isso que o tentador quer: que não entremos em comunhão com Deus. Quantos de nós já sentimos um desejo imenso de Deus e há sempre alguma coisa ou alguém que nos impede esse momento de encontro com Deus.

O demónio não descansa nunca. Ele está sempre a trabalhar e, quanto mais uma pessoa se empenha nas coisas de Deus mais é tentada. Foi isso que aconteceu com Jesus. Ele estava em união com o Pai e iria começar uma obra de pregação para levar as pessoas à união com Deus. O demónio tinha de o tentar, mas não O venceu. Jesus manteve a Sua união com o Pai. É isso que devemos fazer: quanto mais o tentador nos desviar mais nós temos de rezar.

Depois de vir do deserto “ Jesus voltou para a Galileia, e pregava assim a Boa Nova de Deus: "Chegou a hora! O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se dos pecados e creiam na Boa Nova." (Mc 1,14-15) Tratava-se de passar do egoísmo ao amor, da injustiça à justiça, da idolatria ao Deus vivo. A presença salvadora de Jesus foi um convite para que todos aceitassem a salvação oferecida por Deus. Era uma ocasião única, que ninguém devia perder. Corria o risco de não participar da salvação quem não atendesse ao apelo de Jesus.     
A Boa-Nova proclamada por Jesus apresentava o amor ao próximo, especialmente, aos excluídos e marginalizados como o ponto principal deste projecto de vida. Crer no Evangelho significava muito mais do que uma profissão fé. Crer era agir.

Aqui está um bom programa para fazermos nesta Quaresma: mostrarmos pelas acções que fizermos, a fé que nós temos. A fé exige prática e a prática envolve: a oração para a comunhão com Deus, o jejum para mortificarmos o nosso corpo e as nossas atitudes, e a prática da justiça e da caridade para vivermos e partilharmos o que temos de sobra, com quem não tem o necessário para sobreviver.

A Quaresma já começou. Cada um de nós deve fazer um propósito de se corrigir num ponto ou dois, em que sempre costuma pecar, e vamos fazer um esforço sincero para emendar a nossa vida, através de uma boa confissão nesta Quaresma.

P. Luís Pinho